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sábado, 3 de setembro de 2011

essência

A vida é efémera, sabes? É que o tempo, sendo coisa que não existe de todo, acaba por passar inexplicavelmente depressa. Ou por outra: quem passa depressa somos nós.
Quando meno se espera, eis-nos a pensar na vida: no que foi, no que poderia ter sido... até mesmo no que gostaríamos que viesse a ser. Ainda assim, não será necessariamente incontornável que façamos planos a muito longo prazo; afinal de contas, tudo muda de hoje para manhã: porque cada dia é um dia e ninguém tem o seu Futuro nas mãos. Da mesma forma, aliás, que sempre sempre nos vai o Presente escapando por entre os dedos; e que mesmo o Passado, a ser coisa considerável, imputável, ora se assemelha a um desses muitos pântanos custosos de se sair que há por aí, ora a uma daquelas áreas de areias movediças no deserto e não só. Pois que também é possível experimentar-se o deserto em pleno mar de gente.
De facto, tu, como eu, és ao pé dos outros o que são esses outros por ti e contigo: o que te vêem, e não o que és realmente. Ainda que jamais devas deixar de ter presente que o teu eu perante ti deve significar, para além e acima de tudo o mais o que importa e o que não importa, leia-se , o que és afinal, e que serás sempre. Ou seja: não tanto como gostarias de ser, mas o que és realmente. E tu, como eu, és uma pessoa - a tua pessoa. E o tempo de o saberes não tem Passado, Presente nem Futuro: porque o teu tempo é parte inalienável de ti; e porque ao teu eu com mais ou menos tempo sempre corresponde um ti. Assim és tu.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

primazia

Por estes dias tenho aproveitado boa parte do meu tempo a procurar as minhas origens. Isto porque – algo por acaso, até – descobri que há uma quantidade substancial de informação sobre batismos, casamentos e óbitos no meu município a partir do sítio da Direção Geral de Arquivos. Estes registos paroquiais apresentam, regra geral, informação mais completa e detalhada do que eu pensava; foram os de batismo e casamento tornados obrigatórios pelo Concílio de Trento em 1563, e os de óbito em 1614. Nalguns destes últimos podemos mesmo encontrar as causas de morte, e até o amargor dos parochos para com a falha incúria dos cirurgiaõs, que assim terão impedido os falecentes de receberem o sacramento da extrema-unção. Verdadeiramente fascinante!

Algumas horas de leitura permitiram chegar já a umas quantas conclusões: o meu apelido foi, com efeito, sempre incomum naquelas terras; há fortes indícios de que seja de proveniência espanhola; a zona que habito foi consideravelmente mais importante e habitada até à Iª Guerra Mundial; a variedade de nomes próprios no concelho era muito maior: Tertuliano, Ubaldo, Ventura, e Balbina, Casemira, Felizarda – alguns dos muitos exemplos possíveis.

O facto de ter tido Paleografia contribuiu para que a familiarização com vários tipos de escrita ocorresse com certa rapidez. Ainda assim, há sempre uma ou duas dúvidas pontuais, muitas vezes devido ao mau estado de conservação dos cadernos de assento: em mais antigos há mesmo bocados de folha em falta, devido à decomposição absoluta, irreversível, das folhas. Informação essa irrecuperável. E a minha prévia noção disto mesmo, atestada agora enfim, sustenta quanto baste o meu ponto: que deverá proceder-se o quanto antes à digitalização de todos os documentos afins, bem como à sua preservação e restauro, por um lado, e, por outro, à transcrição da informação neles contida.



sexta-feira, 27 de maio de 2011

convocatória

Estamos a escassos dias das eleições. E perante um cenário que há muito não acontecia – não sabemos qual dos grandes vai ganhar. Neste sentido, aplaudo a decisão conhecida hoje pelo Tribunal de Oeiras, favorável aos pequenos partidos. Porque só puderam ter frente-a-frente os com representação parlamentar, se os partidos a concorrer são 17, e não 5??

Já tive ocasião de exercer antecipadamente o direito de voto, por ser estudante deslocado. O ato não me tomou nem 5 minutos; muito mais que isso gastei a conseguir informar-me devidamente do processo: na junta de freguesia ensinei cortêsmente à funcionária (princípio de Maio) que existiria o voto antecipado... e que já existia o portal do eleitor. Já na secretaria da minha faculdade (na passada segunda-feira) ajudei a esclarecer o processo: afinal, ao menos em Lisboa, não tivemos de aguardar a deslocação ao estabelecimento de ensino do presidente da câmara municipal ou seu representante, mas sim que ir até ao edifício camarário do Campo Grande. Eu até compreendo a diferença no caso de Lisboa, a capital (pobre dr. António Costa, se tivesse de calcorrear todos os espaços, um por um!); e sejamos pragmáticos: afinal o que importa é que possamos votar, seja como for. Só condeno a falta e inoportunidade de informação.

O meu apelo é só um: o rotativismo está falido, e a composição do parlamento fixada em 5 falha. O PS é incompetente, e já ninguém acredita no PM do PS derrubado pela oposição, mas que afinal pediu a sua própria demissão; o candidato do PSD é demasiado flexível, e rodeado está por muitas e pouco confiáveis pessoas; o candidato do CDS é tão popular quanto... populista. O candidato comunista é uma cassete mais que estafada; o candidato do BE é uma desilusão, por não ter percebido que já chegou mais que na hora de ser o CDS da esquerda, isto é, um partido de governação aliável ao PS, com ou sem Sócrates tanto daria. Ora, passados 35 anos desde 1976, parece-me que já tivemos o suficiente desta configuração nos seus traços mais gerais e estatizados (duplamente, leia-se). Por isso, ousemos enfim remodelar a casa nobre da democracia: dia 5, vota o que quiseres que não um daqueles 5 – vota útil.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

anuência

Continuamos em crise, mas a ajuda não tarda. Todavia já estivemos pior, há que o dizer: lentamente começamos a vislumbrar o fundo do túnel. Apesar de ainda ser cedo para perceber que tempo faz lá fora. PS e PSD continuam a digladiar-se por um governo minoritário: “Sócrates parece Hitler, mas sem o bigode”, chegou-me aos ouvidos. Mas Passos lembra aquele Sócrates de outros tempos, ”bem-parecido e de enérgica e admirável oratória”, pelo que todas as pessoas têm razões para desconfiar. Seria irónico, mas não de todo impossível, acabarem os dois num governo de coligação – e no fim ter-lhes-á valido a supervisão do FMI para a legislatura chegar ao fim. Devíamos perguntar-nos o que queremos que eles façam ao nosso Estado Social – só assim se pode votar em consciência a 5 de Junho. Devíamos exigir-lhes que nos explicassem como, já que o porquê todos alcançamos. Sem entrar em detalhes, dir-te-ia que o país está como está porque nunca esteve bem; porque nem os modelos foram funcionais, nem as reformas operadas bem sucedidas, dignas de panaceia. Ora, se a oposição é estranha e o próprio PSD não é concreto, o PS também não tem sido honesto. É o liberalismo mau? É o PSD de Passos Coelho de facto liberalista? E Sócrates, merece continuar primeiro-ministro? As suas desdicências são compensadas pelos seus feitos? Estas dúvidas não podem persistir. Basta!: Digam lá todos à gente, senhores – mas civilizada, ordeiramente, à vez – como estamos, e o que sugerem para nos afastar do precipício. É que já começou a chover dos mercados, e o piso vai ficando escorregadio. Fernando Nobre fez saber há horas pelo facebook que será cabeça de lista do PSD por Lisboa estas Legislativas, sendo mesmo indicado como escolha do partido para Presidente da Assembleia da República. Uma jogada de mestre, diria: presidente da AR ou não, mas deputado garantidamente, acabou o independente e honrado senhor de assegurar o suporte dos sociais-democratas a uma nova candidatura às Presidênciais, em 2016. É: porque o melhor será não contar com o ovo no cú da galinha e Durão Barroso pode ter de ficar para depois... Seja como for – às urnas a 5 de Junho, minha gente, que assim se cuida da democracia. Força Portugal!

quarta-feira, 23 de março de 2011

enfado

É: Portugal atravessa uma recessão grave, transversal e profunda. Mas o pior, como sempre, está por vir.
Eis-nos então chegados, repara bem, ao tão previsível e tétrico (a)final. Oh, que por esta Europeia Periferia dias surreais são os que se vivem!: o Governo vai-se (abaixo) por astuciosas e inconsequentes polítiquices. Lá que o PM foi esperto em provocar isto sem levar o quarto Plano de Estabilidade e Crescimento ao parlamento antes de o apresentar como garantido à Europa, lá isso foi. Só não lhe tiro o chapéu porque já mo comeram as traças em expeculação. Mau: é que foi isso prova de "vis baixezas", como poderia aliás vir reforçar certa personalidade. Olha: são Cavaco nos dê pa-ciência!
Deixo-te aqui de fora as explicações técnicas do dito PEC IV para os verdadeiramente peritos - e isto fazendo boa fé de que os há. Concentremo-nos portanto na contracapa do amargo âmago da questão - a Crise Política. Porque no entretanto será devolvida a palavra aos cidadãos, é de todo o interesse que venha a ficar decidido se se quer manter o rumo de certa austeridade, e tal mais diferentemente até do que muitos incautos e desavisados pensarão à partida; ou se queremos um outro tipo de austeridade - que, em bom rigor, seria mais eficiente. Eu neste particular, devo dizer-te, encontro-me dividido: porque, sendo mais pro-PS que pro-PSD, não partilho da visão de que isto - sejá lá o que for, e como e quão mau estiver - vai lá sem o FMI. Não ignoramos que "Austeridade" é conceito que, para lá de familiar, se tornou parte do nosso quotidiano. Ora, como pude já dizer a alguns, parece-me que a pergunta que se impõe a todos de momento é o que é preferível: se uma austeridade progressiva, independentista porque nacional, soberana, mas que não nos tem dado a mínima garantia de valer o esforço nem o mínimo vislumbre de fim definitivo; se uma austeridade imposta pelo Exterior, de certo mais dolorosa pelo ortodoxo que necessariamente a caracterizaria e ainda assim melhor capaz de garantir a valência de todo esse esforço com benignos retroativos num certo e não tão distante devir.
De todos os cenários constitucionalmente previstos, aquele que prefiro seria o de uma recusa do PR em conceder a demissão pedida pelo próprio José Sócrates, já que assim manteríamos um Governo normal, logo não teriamos em seu lugar um de gestão até às eleições de Maio ou Junho. Esta opção é a única que admito a bem daquela coisa de pai incógnito e filhos desconhecidos que tão presente está no discrurso político atualmente - falo, claro está, do interesse nacional -; dado que só assim poderia entrementes Portugal permitir-se ora um regular funcionamento das instituições democratistas, ora a real capacidade do Executivo respeitar os seus compromissos eur... internacionais. Confesso que, depois de certo esforço, lá me habituei a pensar em Euros.
Uma expetativa genuinamente a priori para o desfecho de tudo isto? Diria que neste momento, independendentemente dos méritos e deméritos de cada ator político, há 70% de probabilidade de Sócrates ser reeleito, com minoria. Cenário que, a acontecer, poderia ainda assim significar um governo de coligação PSD/CDS-PP ou, menos provável me parece, de bloco central. Para manter esta imporantíssima vantagem inicial, o PS só precisaria de se focar, como estratégia eleitoral, no propósito de jogar com o que é conhecido versus o desconhecido para as pessoas. Concretizando: fazer passar a imagem, a mensagem de um PSD liberal, que vem pôr fim ao nosso querido e decadente Estado Providência. Afinal, quantos estão dispostos a dar o benfício da dúvida aqueloutro, o nosso Passos do séc. XXI, homem sobre o qual paira a suspeita de tentar, primeiro na senda de uma reforma constitucional agora retida e depois executivamente, pôr fim ao despedimento por justa causa (lexicalmente falando, ao menos, tanto quanto nos foi possível aferir), ou reformar "antissocialmente" os sistemas nacionais de saúde e de educação? E o Paulo Portas, é fiável? E a Esquerda ao PS séria e responsável, lhe alternativa: qual é?... o que é? Pena tenho eu que Os Verdes não concorram sós (e que os monárquicos não elejam um deputado sequer, já agora, mas enfim).
Irra, malvado rotativismo! Mas também não se pode ter tudo - nem seria desejável a um povo de que se diz viver acima das suas possibilidades! -: se isto não está como na 1ª República, aos milagres limitados da pertença à União Europeia o devemos. A ver vamos no que tudo isto dará, que uma coisa já é certa: isto de Portugal é para continuar: que se "há mais vida para lá do défice", haverá também mais politiquice para lá da crise.

domingo, 13 de março de 2011

protesto

Ontem milhares de pessoas juntaram-se em Lisboa a fim de expressem a sua infelicidade ao mundo. Foi um protesto intergeracional, ainda que sendo a iniciativa inicialmente restringida à dita "geração à rasca". Curioso e irreverente.

Eu respeito e compreendo a lógica desta manifestação, mas se não me juntei a ela foi porque sabia de antemão que não veio contribuir para se alterar o que fosse na prática que é como quem diz politicamente. É que por esta altura o caminho está apenas em votar diferente no momento próprio. Desengane-se por isso o nosso recém-empossado PR, que tão irresponsavelmente veio ora apregoar uma magistratura ativa sem concretizar, ora apelar a um sobressalto cívico sem medir a força da expressão (tanto pelo que vale, quanto mais por ser dita por ele).

Sou dos que acham que as coisas foram "deixadas ao Sócrates dará" por demasiado tempo. Mas, mais que isso, compreendamos que o nosso Primeiro já deu provas bastantes de ser autista no que toca a toda e qualquer manifestação, greve, etc.. Enfim: a quaisquer protestos mais ou menos democráticos, mais ou menos organizados, mais ou menos ordeiros. Depois, não podemos ignorar que o país está demasiado comprometido com as suas responsabilidades no projecto europeu para que haja um voltar atrás no que quer que seja que nos últimos tempos se tem vindo fazer associar a "austeridade". Precariedade inclusivé.

Pessoalmente nunca vi na manifestação espontânea, passional e desorganizada, uma arma política real. E mesmo quanto às programadas tenho as minhas dúvidas. Afinal, ambas convergem no que toca ao efeito produzido per si. Se não, repare-se em como manifestarmo-nos é como irmos à missa: somos instrumentalizados e, se muito bem calha, sem que ao menos conheçamos toda a entidade pastoral responsável , desconhecemos as alternativas e colocamos cegamente a nossa esperança numa posterior reacção por ventura e por hipótese, i. é, esperando que sejam atendidas as nossas preces. Ora eu... por estas e por outras é que sou ateu!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

percepção

O nosso mundo não pára! Pouco depois de me comprometer contigo a revitalizar este espaço, vi-me sem esperar obrigado a adiar isso: 2011 começou cheio de novidades e distrações. Algumas das quais parecem, aliás, ter vindo para ficar. Precisando: se por cá tivemos umas presidenciais surpreendentes, lá fora impõe-se-nos continuar seguindo com todo o interesse aqueles vinticincoabrilescos acontecimentos por terras do Norte de África.

Comecemos pelas presidenciais: foi uma surpresa agradável a votação no candidato que apoiei, Fernando Nobre. Devo mesmo dizer que foi grande alegria pessoal testemunhar sempre que me possível a evolução do discurso e do ideário do candidato, ao mesmo tempo que pude efetivamente sentir, em bom rigor desde a pré-campanha, uma crescente identificação com a suas concepções e interpretações sociopolíticas. Mas mais que isso me surpreendeu, ainda assim, a maior votação no candidato madeirense que no de Viana do Castelo - e isto para já não referir a penosa, infeliz reeleição à primeira do nosso Presidente da República. De facto, no meu caso não seria necessário nascer duas vezes, pois não só não lhe invejo a tão auto-proclamada honestidade como ainda não me falhou a memória - como certamente ocorreu a grande parte dos que, não sendo da sua área política o escolheram, esquecendo portanto a sua incoerência e posições retrógadas e silêncios, do Estatuto dos Açores à Lei de financimaento do Ensino Superior etc.. De facto, para esta maioria cavaquista/neocavaquista perceber que ele não era a melhor opção não foi possível à primeira vida, e daí a coisa ter-se resolvido à primeira volta. É que nem tão pouco fôra o voto útil, nomeadamente para se evitar a tal dispendiosa, prejudicial segunda volta... Mas enfim: rancores à parte, os discursos de vitória falaram por si!

Olhando agora para o Norte de África: ainda é cedo para me juntar àqueles que vêem lá uma bemaventurada reedição epidémica do nosso 25 de Abril: não que me falte a vontade, mas porque não são realidades minimamente comparáveis: falamos de países com cultura social, política e religiosa de tal modo diferente à nossa... O que me faz ser céptico quanto a uma democratização a curto-prazo, e mesmo quanto a um desfecho por demais positivo destas primeiras movimentações. Logicamente que os cidadãos tunisinos, egípcios e outros que tais têm o direito de se juntar a outros povos de todo o mundo - mas não a todos, temos infelizmente de reparar - neste século XXI. E pensar que eu há muito vinha preconizando uma nova invasão árabe da nossa Península Ibérica. Não me ocorreu, de facto, foi que principiasse desta forma...

domingo, 9 de janeiro de 2011

entrega

Parece que tenho tido este espaço um pouco abandonado, pelo que vou tentar resituir-lhe vida neste novo ano. Mais um ano. Hoje venho falar-te justamente de tempo.
O que é o tempo? Existe de facto? E porque o contamos como contamos, e consideramos como consideramos?
Acho que vivemos altamente enganados, prejudicados, já que dependentes da compromissividade que nos é imposta pelo relógio. Sem possibilidade de escolha. E contudo, se é verdade que o passado nos atormenta aqui e ali, também acontece temermos o devir!
Um dia alguém terá capacidade para fazer o comum das pessoas perceber que o tempo é o que fazemos dele. Oxalá esse momento não tarde!