Desde pequeno me lembro de perguntar, fosse em casa fosse na escola, o que era afinal as tais "Esquerda" e "Direita" que se ouvia na tv quando a conversa era sobre Política. Mas nunca ficara verdadeiramente esclarecido: a melhor explicação que conseguira envolvia toda uma panóplia de ideias que me eram feitas associar a cada das "direcções", consoante quem me respondia. Individualismo e comunitarismo; liberalismo e conservadorismo; democracia e ditadura, até – isto para referir apenas alguns dos exemplos mais recorridos.
Lembro-me da penúltima das respostas que obtive, não há muito tempo, que se resumiu a um sorriso envergonhado pela senhora que se tinha deslocado à minha escola do secundário para dar uma palestra justamente sobre política. Achei minimamente estranho; e não foi caso para menos, sabendo como soube naquele mesmo dia que a dita ocupava um lugar de relevo na direcção de um dos partidos com assento parlamentar!
Ora, acontece que faz pouco mais de duas semanas obtive a última das respostas e, quer-me parecer, felizmente a derradeira. Ou pelo menos aquela que sempre desejara ter, quero dizer. E que, de facto, dispensa qualquer das que lhe precederam. Assim foi porque me explicaram, em Direito Constitucional, a real origem do emprego dos dois conceitos.
Simplesmente não deixa de ser a sua razão histórica, no fundo: meses após a Revolução Francesa (1789), tomou início na então recente assembleia constituinte a discussão da organização jurídico-política da “nova” França e, procurando alterar-se a monárquica forma do regime pré-revolucionário, encontraram-se a dado momento sentados à direita na câmara os que desejavam que o rei tivesse poder de veto às leis, enquanto à esquerda estariam os que não o queriam. Poderia explicar mais aprofundadamente, mas não é esse o propósito deste texto.
Percebida a origem histórica, novas dúvidas me surgem: como transpor factualmente tal origem para a actualidade, isto é, como perceber quem está a favor do veto do rei e quem não está nos dias de hoje, por assim dizer. É que já não há rei, mas a Esquerda e a Direita continuam aí.
Penso que, pelo menos em Portugal, há muita falta de informação e sensibilidade para este aspecto da Ciência Política. Sobretudo entre as pessoas das gerações mais novas, como é o meu caso. Pois então, porque foi preciso “chegar” à faculdade para obter uma explicação, afinal tão clara e simples parece-me, para uma dúvida que vinha tendo desde que comecei a ouvir falar de Política? E mais obtive-a sem ter perguntado, até, o que não deixa de ser curioso.
Penso que, pelo menos em Portugal, há muita falta de informação e sensibilidade para este aspecto da Ciência Política. Sobretudo entre as pessoas das gerações mais novas, como é o meu caso. Pois então, porque foi preciso “chegar” à faculdade para obter uma explicação, afinal tão clara e simples parece-me, para uma dúvida que vinha tendo desde que comecei a ouvir falar de Política? E mais obtive-a sem ter perguntado, até, o que não deixa de ser curioso.
Penso que, em ano de eleições como o corrente, se revelaria extremamente útil para o eleitorado português obter uma explicação sobre o valor dos conceitos e o que os diferencia hoje em dia. Ainda que, a concretizar-se, tal (tentativa de?) explicação pudesse eventualmente revelar-se pouco benéfica para os partidos políticos, admito. E assim sou levado a pensar que talvez os próprios políticos não fossem os mais indicados para fazê-lo, portanto quem estaria então apto para tal? Simples: historiadores em particular, juristas em geral, não faltaria mesmo por onde escolher. Porque não um Prós-e-Contras?
Termino apelando ao bom senso de todos e de cada um: de esquerdistas, de direitistas, mas também dos que se baralham, e mesmo dos que baralhados estão. Exijam compreender a política: não se disponham a arriscar a ser canhotos nas vossas escolhas eleitorais; ainda mais nas ideológicas. É uma questão de coerência, mas simultaneamente um conhecido direito que a todos assiste – direito à informação.