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quarta-feira, 27 de maio de 2009

direcção

Desde pequeno me lembro de perguntar, fosse em casa fosse na escola, o que era afinal as tais "Esquerda" e "Direita" que se ouvia na tv quando a conversa era sobre Política. Mas nunca ficara verdadeiramente esclarecido: a melhor explicação que conseguira envolvia toda uma panóplia de ideias que me eram feitas associar a cada das "direcções", consoante quem me respondia. Individualismo e comunitarismo; liberalismo e conservadorismo; democracia e ditadura, até – isto para referir apenas alguns dos exemplos mais recorridos.
Lembro-me da penúltima das respostas que obtive, não há muito tempo, que se resumiu a um sorriso envergonhado pela senhora que se tinha deslocado à minha escola do secundário para dar uma palestra justamente sobre política. Achei minimamente estranho; e não foi caso para menos, sabendo como soube naquele mesmo dia que a dita ocupava um lugar de relevo na direcção de um dos partidos com assento parlamentar!
Ora, acontece que faz pouco mais de duas semanas obtive a última das respostas e, quer-me parecer, felizmente a derradeira. Ou pelo menos aquela que sempre desejara ter, quero dizer. E que, de facto, dispensa qualquer das que lhe precederam. Assim foi porque me explicaram, em Direito Constitucional, a real origem do emprego dos dois conceitos.
Simplesmente não deixa de ser a sua razão histórica, no fundo: meses após a Revolução Francesa (1789), tomou início na então recente assembleia constituinte a discussão da organização jurídico-política da “nova” França e, procurando alterar-se a monárquica forma do regime pré-revolucionário, encontraram-se a dado momento sentados à direita na câmara os que desejavam que o rei tivesse poder de veto às leis, enquanto à esquerda estariam os que não o queriam. Poderia explicar mais aprofundadamente, mas não é esse o propósito deste texto.
Percebida a origem histórica, novas dúvidas me surgem: como transpor factualmente tal origem para a actualidade, isto é, como perceber quem está a favor do veto do rei e quem não está nos dias de hoje, por assim dizer. É que já não há rei, mas a Esquerda e a Direita continuam aí.
Penso que, pelo menos em Portugal, há muita falta de informação e sensibilidade para este aspecto da Ciência Política. Sobretudo entre as pessoas das gerações mais novas, como é o meu caso. Pois então, porque foi preciso “chegar” à faculdade para obter uma explicação, afinal tão clara e simples parece-me, para uma dúvida que vinha tendo desde que comecei a ouvir falar de Política? E mais obtive-a sem ter perguntado, até, o que não deixa de ser curioso.
Penso que, em ano de eleições como o corrente, se revelaria extremamente útil para o eleitorado português obter uma explicação sobre o valor dos conceitos e o que os diferencia hoje em dia. Ainda que, a concretizar-se, tal (tentativa de?) explicação pudesse eventualmente revelar-se pouco benéfica para os partidos políticos, admito. E assim sou levado a pensar que talvez os próprios políticos não fossem os mais indicados para fazê-lo, portanto quem estaria então apto para tal? Simples: historiadores em particular, juristas em geral, não faltaria mesmo por onde escolher. Porque não um Prós-e-Contras?
Termino apelando ao bom senso de todos e de cada um: de esquerdistas, de direitistas, mas também dos que se baralham, e mesmo dos que baralhados estão. Exijam compreender a política: não se disponham a arriscar a ser canhotos nas vossas escolhas eleitorais; ainda mais nas ideológicas. É uma questão de coerência, mas simultaneamente um conhecido direito que a todos assiste – direito à informação.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

falta

Há muito que me sei sensível a coisas a que outros não são. E vice-versa. Mas esta julgo digna de ser contada ao (II) Mundo; e não é que devo ter mesmo a mania!, pois esta não vai ser a primeira vez que falo aqui, moralizadoramente, de educação. Para o efeito, dissertarei agora muito brevemente sobre palmas: o seu oportunismo, intensidade e duração exprimem reconhecimento, agrado, os quais diferem tanto porque julgados indivudualmente como porque em função das circunstâncias; não deixa tal acto, contudo, de significar atenção, porventura; até porque é uma importante manifestação de contacto social, no sentido em que constutui parte da luta contra a "pretensa, indesejada ilha" do individualismo solitário. Não obstante, traduz ainda respeito e educação – boa educação.
Poderia agora seguir o caminho da explicação de como se deve bater palmas nos diferentes espaços e espectáculos públicos, em função da natureza dos seus eventos e protagonistas – estes variáveis, como se pressupõe –, até porque não é de agora que me apercebo que a maioria das pessoas não sabe, não pode fazê-lo adequadamente. É: bater palmas tem mesmo uma ciência própria – é mais do que emitir um som estridente juntando as palmas das mãos… E confesso que não sei onde, porquê, como e por quem – e até com quem, se – aprendi a fazê-lo, se é que o sei sequer, mas o facto é que tenho para mim essa noção do como. Sucede, porém, que contra bons factos não há argumentos inteligentes: não sou padre, pai, professor, sociólogo, nem tão pouco sou alguma espécie de entidade competente em matéria de moral – moralidade e moralização, no caso –, e por isso mesmo faço questão de não julgar terceiros, mas apenas de me julgar a mim próprio em sua função. Quando e se possível.
Ora, quero com tudo isto dizer que me ficarei, então, por falar do estranho, surreal, quase inacreditável caso de ontem mesmo, no qual me coube o feliz e isento papel de protagonista passivo: apresentei um trabalho na faculdade, com um colega. É verdade que foi por cinco minutos e que, diferentemente de grupos que haviam apresentado antes de nós, não nos baseámos em algum outro suporte que não as anotações de cada um, tópicos em simples folhas para nos guiar na exposição oral.
Dispensámos nomeadamente o PowerPoint, o que em certa medida traduz a nossa boa noção do pouco tempo que de facto tínhamos, tal como a nossa preocupação em desapegarmo-nos de elementos visuais, quais auxiliares de memória profundos, e a nossa vontade em falar olhos nos olhos com o auditório. Mas o nervosismo nestas coisas raramente não se manifesta, e só os mais experientes conseguem evitar enganos mínimos com astucioso controlo.
Como já poderás tu, leitor (a minha escrita tratar-te-à doravante por tu, e desculpa-me a eventual incorrecta familiaridade, qual forma de comunicação que tenho para mim ser mais madura), ter adivinhado, é o motivo que me leva a escrever este texto a ausência de palmas à apresentação do meu grupo. Não duvidando que a apresentação foi conseguida, até me pergunto é porque terá acontecido tal. (O que não vale a pena, bem (mal!) o sei, pois nunca saberei todas as cerca de quarenta respostas.) Mas, no fundo, apenas me preocupam as ilações, de tão negativas; olhando para mim, não duvido do meu bom senso e interesse, felizmente raras vezes mínimos nestas "coisas" da universidade como em tantas outras, pelo que me rejubila e conforta o pensamento de saber que comigo é diferente – sei-o porque fiz questão de experienciar logo a seguir, ao oportunamente ser o primeiro a bater palmas ao grupo que apresentou em seguida com a intensidade e duração de que o achei merecedor. Folgo em saber, de mim. Realmente, olha que nunca tinha pensado pudesse o acto de bater palmas dar-nos assim tanta informação – de mim e dos outros.

terça-feira, 12 de maio de 2009

obstinação

Nestes últimos dias quase dou por mim a gostar de ler, a querer ler... a querer aprender a gostar de ler, até! O motivo? A Feira do Livro de Lisboa. Pormenores? Sobre a feira não vale a pena: consulte-se o site oficial do evento, que eu definitivamente não sou a pessoa indicada para prestar qualquer tipo de esclarecimentos (nem tão-pouco este é o espaço certo para tal, como facilmente se percebe).
Esta é quase que uma estreia absoluta num evento do género para mim, sendo-o por inteiro no que respeita à cidade em que tem lugar. E a verdade é que já visitei a dita feira várias vezes desde que decorre – e o mais certo é assim voltar a ocorrer até o seu término. Dito isto, segue-se a parte "engraçada", mas nem por isso alegre: faço-o não por prazer na leitura, mas por necessidade e oportunidade: quantas possibilidades se tem por ano de adquirir livros de qualquer espécie e feitio, seja para que finalidade for, e independentemente da nossa motivação para os adquirirmos?
De longe, o momento mais movimentado à hora em que lá estive foi no Domingo passado, entre as 17h e as 18h, e nunca me tinha acontecido encontrar-me fisicamente rodeado por uma multidão que só falava de livros e autores. Não que seja mau, pelo contrário – só me entristece que Portugal só seja cultural em determinadas “feiras”, e não por iniciativa, alta recreação, logo que me veja “atento, venerado e obrigado” a escrever, a postar coisas como esta no meu blog. Lembro-me que entretanto pensei para mim – e egoisticamente, confesso –: mas será que esta gente gosta toda assim tanto de ler, ou é como eu, ou pior ainda? Recordo que estava lá por necessidade e oportunidade, e não para exibir social, publicamente até, os meus conhecimentos de livros, autores e outras coisas que tais. (Parcos, mas isso nem tenho de confessar, que é já óbvio para o leitor.)
Agora, um outro ponto. Outra coisa que certa é também: lá por não gostar de ler não quer dizer que não saiba dar valor aos livros: já se percebe pelo discurso que não tenho como fazê-lo em função do conteúdo em si – será essa, por ventura, uma tal capacidade voluntária ou involuntária que me falta –, pelo que falo mas é da obra como objecto concreto, como bem, peça de valor, que importa inteligentemente estimar. "Um livro é sempre um valor", cedo me ensinou minha mãe, e já diz o ditado que "bom filho a casa torna". Nem que seja só em termos de um ou outro valores que os pais nos legam – chama-se/chamam-lhe/há quem lhe chame Educação, de resto. Sim, porque há quem entenda que deve rejeitá-los – aos valores, quando não aos livros também, que afinal de contas é sobre estes que me importa aqui falar –, não faltando quem o faça de todo, aliás. No que a mim respeita, posso dizer que é uma daquelas coisas que nunca duvidei. Não é o meu caso de facto, para clarificar: ler e conservar custa-me igualmente, e não nego nem diminuo o valor a nenhuma destas duas atitudes.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

importância

Infelizmente, nem todas as novidades constituem real novidade. Nunca achei grande piada a jornais, mesmo a gratuitos, e perguntava-me como tinham as pessoas paciência, vontade, disponibilidade (seja o que for) para "perder tempo pondo-se a par de pretensas notícias do dia anterior". Mais: nem tampouco conseguia entender o(s) porquê(s) de, numa sociedade da tv e da internet como a nossa, as pessoas continuarem a seguir as pisadas dos antepassados mais directos ao procurarem jornais, sendo os de tiragem diária autênticos monstros "contra-natura" pelo desperdício de papel que representam; para já nem me debruçar demasiado sobre o aspecto do "que sai do bolso", pois que é certamente um hábito insustentável para muitos cidadãos em tempos como estes – de crise.
Quão ingénuo! De facto, o mal aqui, salvo o ponto “impacto ambiental negativo”, era só na minha cabeça... E tudo graças ao novo jornal diário português, o i: um euro diário muito bem investido. Digo eu.
Dizem por aí que em formato é semelhante ao ABC, jornal espanhol, e que é único no seu género no nosso país. Não pude deixar de encontrar alguma coisa que me fez pensar na boa Courrier Internacional, revista mensal que assino e que, curiosamente, existiu sob forma de jornal semanal durante a maior parte da sua vida até à data. Até ao momento, permito-me destacar a inesperada curiosidade que considero ser a Nós Românticos, aquela que foi "a primeira de um projecto de 50 revistas sobre Portugal e os portugueses" previstas portanto como suplemento durante os 50 primeiros sábados de existência do i; elejo ainda a entrevista pela ímpar Maria João Avillez a Manuela Ferreira Leite, líder do PSD, desculpando-me com o riso em mim provocado pela inocência das suas confissões – sobretudo quando o assunto é a amizade com o Presidente Cavaco Silva, com o qual eu mesmo sou aparentado até – para não destacar a muita e credível informação que obtive por qualquer um dos espectaculares artigos da "secção" Zoom.
Naturalmente que não tenho qualquer experiência para fazer juízos acerca de jornais; ainda assim, disponho-me agora correr o risco de ser superficialmente óbvio: para jornal diário o tamanho do i é impressionante; mas não o será menos que a excelência da qualidade da informação, apreciando-a quer ao nível do enquadramento dessa – falo do jogo de cores, caracteres e imagens de fotojornalismo, e mesmo da simples, banal publicidade –, quer no que concerne ao aspecto da quase ausência de gralhas nos textos, feito que considero excepcional para uma publicação que sai a cada 24 horas (excepto Domingos), recordo.
Gostaria de destacar a parceria com o jornal The New York Times, reconhecida referência mundial, que assegura além de um exclusivo todos os dias, pelo menos, também um suplemento às sextas-feiras com o melhor da semana do dito jornal, e em português. E, já agora, porque não dizer também o quão confortável é que a publicação seja agrafada – especialmente quando os dias são ventosos, ou até mesmo quando o chamamento da informação de um qualquer artigo do jornal se manifesta em nós ao caminharmos para uma entrada ou saída do Metro.
Acredito que o i tem tudo para vincar na sociedade portuguesa, contemplando neste meu juízo a pertinácia que desde as primeiras vezes vou crescentemente sentindo por visitar, algo regularmente até, o simples mas bem conseguido site, sem dúvida activo complemento ao jornal “tradicional” (parece que acabo de construir um paradoxo, não é?). E que pode muito bem conquistar um público como eu, que nem o Público sentia apetência para ler. Resta-me desejar longa vida a este projecto que perspectivo logrado e que, estou em crer, me vem ajudando desde quinta-feira passada a perceber o que é um jornal, e qual a sua real importância ainda hoje.