Muitas são as ideias mais ou menos lógicas, mais ou menos complexas que me passam pela cabeça, como já tive oportunidade de te dizer. Algumas, acredito, interessantes ao ponto de decidir partilhá-las aqui. Contigo e por nós. Exercitemos, por isso, o nosso raciocínio uma vez mais.
O conceito de liberdade, sobre o qual venho reflectindo de há uns tempos para cá, e com o qual me vou entreter a falar-te agora, reveste-se para mim de singularidades que, se por um lado me ajudarão a entendê-lo, por outro poderão não me ajudar em igual na capacidade para explicar-to.
Considero que a liberdade, enquanto direito e dever, enquanto honra meritória ou imposição social, não existe. Que não podemos sequer procurar colectivizá-la, nem tão pouco enquadrá-la social, politicamente – porque só faz sentido na esfera privada, quero dizer, individualmente, sem dúvida em cada um de todos nós. Considero portanto que só podemos falar de liberdade, quanto muito, enquanto sentimento: sentimento esse que, creio, se quer apaixonado, voluntário; que, em função da sua (maior ou menor) intensidade, pode traduzir a nossa capacidade capacidade – ou, por outro lado, a ausência de tal – de, em dado momento, sabermos ser, estar em harmonia ora para connosco próprios ora para com a sociedade.
(Ainda mais) Pessoalmente, poderia definir a liberdade como prova pessoal de perfeição em constante e desejado aperfeiçoamento: partindo do princípio que a perfeição é, na realidade, todo o ponto de partida – e não o de chegada – (e disto falarei num outro texto, no futuro, com a atenção que lhe acho justa, porventura premente até), agrada-me a ideia de estar preocupado em fazer as minhas escolhas, tomar as minhas decisões do modo mais inteligente, útil e proveitoso para mim. E para os outros, eventual e desejadamente. E sempre que possível e se justifique.
Como pode, então, a liberdade ser alvo de tão hábil manipulação pelo Homem, em particular por homini politicus? Procuro desmascarar a verdade por via do seguinte raciocínio argumentativo, completamente verosímil e lógico para mim: porque, e como pode nascer o Homem em liberdade, sem nem teve a liberdade para escolher nascer?
Diria que daqui se depreende haver liberdade para deturpar a própria percepção de liberdade, mas não nos iludamos: liberdade não significa o mesmo que permissividade. Errada e maliciosamente parece omitir-se o seu lado restritivo – o “responsável”! – sem o saber conscientemente. Ou, pelo menos, assim sou levado a pensar. Ter liberdade não é tudo, mas é claramente uma sua parte importante.